AVISO AOS NAVEGANTES

  • 28/02
  • Crônicas
  • Nelson Moraes

Nos raros intervalos entre uma tarefa e outra, deito-me estirado sobre o tapete majestoso da natureza que cobre as planícies etéreas, e contemplo a imensidão cósmica! A noite se transforma em magnífica tela exibindo a arquitetura divina. Os espíritos viajantes da eternidade rasgam os céus deixando um rastro prateado que permanece por alguns instantes quebrando a sensação de infinito. Nessas horas em que me entrego aos eflúvios divinos, mergulho em meditações profundas e uma força irresistível me conduz diante da magnífica estrutura do velho Parthenon. Extasiado, contemplo as linhas arquitetônicas obedientes ao estilo dórico, cuja suavidade combina com a serenidade e a sabedoria atribuídas à deusa Atena. Meu coração palpita e as lembranças fundem o passado com o presente, e a melancolia se apodera das fibras mais íntimas do meu coração. Meus olhos não contemplam ruínas; tudo está intacto. Os desenhos em alto-relevo das métopas parecem vivos, representando a luta dos deuses contra os monstros mitológicos. Vejo-me diante de um santuário de consistência etérea que se conserva incólume à voragem do deus Cronos; um valioso patrimônio histórico da humanidade terrestre!

As lembranças fragmentadas de velhos companheiros me fazem sentir como se eu fosse uma ave migratória que não conseguiu levantar vôo e acompanhar o bando, deixando de alcançar as regiões mais avançadas onde o verão é aquecido pelo sol da sabedoria. Tomado de uma estranha nostalgia, retorno à relva e acaricio as pétalas macias das flores que se fizeram companheiras da minha solidão momentânea. Com as energias redobradas e um forte anseio de progresso, redireciono meu pensamento em torno da minha caminhada nos cenários terrenos através dos milênios.

Fiz parte de uma plêiade de espíritos que através dos séculos navegaram nos mares da existência terrena, à semelhança de turistas em busca de prazeres e paisagens encantadoras. Durante longo período singramos os oceanos das ilusões.
Dominando os ventos que sopravam favoráveis, e embriagados pelo canto das sereias, seguíamos mar adentro orientados pela bússola das paixões e dos desejos inferiores.

É com tristeza que vejo as grandes frotas humanas enfileiradas sob o comando do Eu, seguindo as mesmas coordenadas até os dias atuais.
Cegas pelo egoísmo e indiferentes ao sinal de perigo disparado em suas consciências, navegaram através do tempo sem perceberem que a estibordo e a bombordo das suas embarcações seguiam pequenos barcos tripulados pela fome e pela miséria que, à semelhança de gaivotas, esperavam as migalhas serem lançadas ao mar para apanhá-las.
Mantendo a indignação como leme e a revolta como bússola, essas sombrias embarcações seguiam as frotas da indiferença. Porém, cansadas de esperarem por essas escassas migalhas, acabaram se transformando em terríveis piratas, passando a saquear as embarcações dos felizes turistas, estabelecendo um clima de violência, de intranqüilidade e de insegurança em torno da grande esquadra humana.

Ao alvorecer deste milênio, começaram a soprar os ventos fortes de uma nova realidade que se aproxima agitando os mares da existência planetária. As ondas turbulentas empurram os navegantes distraídos na direção de uma região nos oceanos dos séculos, onde começam a surgir os recifes de corais alimentados pelo lixo remanescente das suas extravagâncias e dos seus abusos, colocando em risco os que ainda navegam indiferentes às coordenadas corretas para uma navegação segura.

A Boa Nova, revelada há mais de um século, surgiu como poderoso farol para guiar os navegantes desprevenidos por entre os recifes pontiagudos e dissipar com a sua luz o nevoeiro denso da ignorância espiritual. Os que foram atraídos e se guiaram pela sua esplendorosa luz, entraram mar a dentro nos oceanos da renovação e agora navegam seguros rumo a felicidade. Mas, infelizmente a grande maioria ainda não enxergou esse majestoso foco de luz emitindo providencial aviso aos navegantes.
Os indiferentes à sublime advertência do Senhor dos Mares da Vida, seguem em direção a eclusa que irá transferi-los a um oceano estranho e distante do orbe terrestre.

Nelson Moraes - Provavelmente inspirado pelo Irmão X