O UMBRAL E O NOSSO LAR

  • 28/02
  • Crônicas
  • Nelson Moraes

Matéria publicada na Revista Internacional de Espiritismo de novembro de 2011

Muitos simpatizantes do espiritismo, na sua maioria católicos e leigos e até mesmos alguns adeptos do Espiritismo, ao assistirem as cenas de André Luiz no Umbral mostradas no filme Nosso Lar, talvez pela falta de maiores esclarecimentos no conteúdo do filme, acabaram por entender que o Umbral é um pântano cheio de lama e que é para lá que irão os “pecadores” condenados pelas leis divinas. Um número muito grande de pessoas me fez perguntas através do programa que apresento na televisão e na sua totalidade eram sobre o Umbral:

“Sr. Nelson, o Espiritismo afirma que não existe o inferno, então como explicar o lugar horrível para onde foi André Luiz?”.

“Segundo o Espiritismo, existem espíritos endurecidos influenciando os encarnados por toda parte, porque então as leis divinas não condenaram esses espíritos a sofrerem o que sofreu André Luiz?”.

Em função de várias centenas de e-mails que me foram enviados mais ou menos nesse teor, passei quase dois meses respondendo e esclarecendo aos telespectadores do programa que, diferente do que pareceu no filme, André Luiz não foi resgatado de um pântano chamado Umbral, mas sim de um lugar situado no Umbral onde vivia atormentado pela própria consciência que o fazia se sentir mergulhado como que num mar de lama plasmado pela mente dominada pelo remorso.

Diante desses questionamentos que se repetem até os dias de hoje, percebemos claramente que não adianta apenas divulgar o Espiritismo, é preciso esclarecer a sua essência ao falar, escrever ou apresentá-lo através de qualquer evento de arte, e que, não será apenas com imagens ou efeitos especiais que iremos contribuir para a sua propagação.

É preciso arrefecer a euforia dos espíritas diante dos eventos “grandiosos” que são promovidos sem uma análise criteriosa do conteúdo e dos efeitos que irão causar na opinião pública.

Seria de bom senso que os eventos espíritas ao serem criados tivessem como alvo o povo em geral e não apenas os espíritas.

A arte da comunicação quando bem elaborada e com conteúdo esclarecedor, construído de forma objetiva sem os arroubos de grandeza ou de uma cultura sofisticada, vai além da divulgação, atingindo todos os níveis de compreensão porque fala às emoções e aos sentimentos, marcando profundamente o coração e a consciência das pessoas, tornando a mensagem inesquecível.

 

Nosso Lar e o Mundo Espiritual

Analisando as características da Colônia Espiritual Nosso Lar, revelada através da psicografia do inquestionável médium Chico Xavier, percebemos que à realidade externa da colônia revela características que nos levam a entender que ela se situa nas zonas umbralinas à semelhança de um condomínio fechado semelhante aos da terra, por isso está cercada por muralhas e dispõem de todo um sistema de segurança. Não é um plano superior, mas um abrigo dirigido por espíritos superiores, destinado a socorrer e orientar os espíritos que ainda transitam pelo Umbral.

Segundo o Novo Aurélio a palavra “umbral” foi tomada do espanhol e significa soleira, limiar, entrada, ou seja, a faixa mínima de piso que se acha entre as laterais de uma porta, portão ou passagem e serve de limite entre um cômodo e outro numa construção.

Como a própria palavra define, o Umbral é um plano vibratório intermediário que se estende por toda a crosta terrestre e se imiscui com o plano material, é a soleira entre o plano físico e o plano espiritual, nele estacionam os espíritos que não conseguiram se espiritualizar o bastante para alcançar os planos superiores.

É nesse mundo imediato a Terra que se estende além das muralhas da cidade Nosso Lar que vivem os espíritos ainda ligados às ilusões do mundo físico, sofrendo as mesmas sensações de quando encarnados, sentem fome, sede e estão sujeitos às mesmas intempéries as quais se sujeitam os encarnados.

Distraídos da própria consciência vagam como se ainda estivessem encarnados, permanecem nessa situação até o momento em que são acometidos pelo despertar da consciência, quando então se ajustam à realidade espiritual reconhecendo os erros praticados e prontificando-se a repará-los. Outros acabam sendo dominados pelo remorso excessivo e passam a viver um terrível drama de consciência de acordo com a gravidade de seus erros. A partir daí, com a força da mente açulada pelo remorso transformam o mundo íntimo num verdadeiro inferno povoado de imagens plasmadas pelos pensamentos atormentados pela culpa. Inferno ao qual estarão submetidos até que consigam perdoar a si mesmos, o que permitirá que retomem o caminho da evolução assumindo a reparação dos erros praticados, ou então, permanecerão nessa situação até quando algum amigo espiritual que esteja em condições de ajudá-los se disponha resgatá-lo, exatamente como ocorreu com André Luiz.

 

Embora a vastidão das regiões umbralinas, o mundo espiritual ligado ao planeta Terra transcende ao Umbral e à suas Colônias. Existem planos vibratórios superiores aglutinando as consciências afins, formando um todo imensurável. Verdadeiros mundos paralelos que se desenvolveram com as características aperfeiçoadas do mundo material e físico em que vivemos. A eles estão destinados os espíritos que durante suas encarnações souberam suportar suas provações sem revolta; mantiveram a serenidade diante das dificuldades; souberam perdoar seus desafetos; resgataram seus erros sem perder a nobreza de caráter e souberam cultivar a fraternidade e a caridade em suas atitudes.

Tais espíritos merecedores de habitarem esses planos vibratórios mais elevados, imediatamente após o desencarne são atraídos para lá e quando chegam não sofrem nenhum constrangimento, tomam quase que imediatamente a consciência de onde estão e recuperam rapidamente a juventude e a plenitude do vigor, diluindo as características físicas da idade avançada com que muitos desencarnaram. Ali não há o sofrimento e a paz é perene, seus habitantes são livres para transitarem pelos diversos planos terrestres e o fazem com indescritível prazer, pois estão presos ao compromisso consciencial de que devem ajudar os retardatários da evolução.

Não são dotados de todas as ciências, pois ainda não são espíritos perfeitos, mas sublimaram suas emoções e seus sentimentos e são candidatos a migrarem no futuro para planetas mais evoluídos que a Terra.
Nelson Moraes