A SAGA DE ULISSES

  • 28/02
  • Crônicas
  • Nelson Moraes

A SAGA DE ULISSES

À semelhança de Jasão, o homem neste século parece navegar em desespero nos mares da incerteza, tentando encontrar o velocino de ouro. Sonha dispor de uma Medéia para ajudá-lo, mas, diferente da Mitologia, está sozinho na sua viagem; tudo e todos parecem abandoná-lo. Porém, é nessa aparente solidão que acabará encontrando algo mais precioso do que o velocino de ouro: encontrar-se-á consigo mesmo. Daí então, liberto do olhar da Medusa que o petrifica diante das dificuldades, descobrirá quem são realmente os monstros que destroem a sua felicidade.
"Conheça-te a ti mesmo" – a verdade é antiga. Mas a ilusão é sempre atraente como o canto das sereias. Mesmo amarrado ao mastro da fé, é muito difícil resistir à encantadora melodia das paixões. O homem, através dos milênios, revive a saga de Ulisses entregando-se aos encantos da feiticeira de Circe; enquanto isso, à semelhança de Penélope, a vida tece e destece o tapete do destino, retardando a sua felicidade.
O instante em que vivemos, longe de se assemelhar aos séculos escoados na ampulheta das ilusões, cobra-nos as qualidades de Atena.
Ao vasculharmos os refolhos da alma, após o salutar encontro conosco mesmos, será preciso muita serenidade e sabedoria, pois não será de inopino que solucionaremos os problemas psíquicos que se originaram durante a nossa longa viagem nos mares da indiferença. Depois de ancorarmos o barco de nossas vidas no porto seguro do conhecimento espiritual – e após carregarmos o convés e os porões da alma com os suprimentos da fé e da esperança –, deveremos içar as velas da compreensão no mastro principal da nossa consciência e, orientados pela bússola da Boa Nova, navegarmos mar adentro até a Ilha do Eu, onde vive o gigante ciclope chamado Egoísmo, o qual teremos de derrotar. Ao fazê-lo, estaremos livres também dos seus irmãos, chamados Orgulho e Vaidade. Livres, passaremos a navegar nos oceanos infindáveis da razão e do conhecimento, avançando em direção a um novo mundo onde todos se consagraram heróis ao vencerem a si mesmos.
Será então um novo tempo e uma nova Terra! Os homens tomarão o Olimpo e se tornarão os deuses da fraternidade, da bondade e do amor!
Nelson Moraes