O SEXO É SINÔNIMO DE FELICIDADE?

  • 28/02
  • Crônicas
  • Nelson Moraes

Publicado como matéria de capa na Revista Internacional de Espiritismo

Considerando que não somos seres biológicos, mas sim espíritos estabelecidos biologicamente em caráter temporário neste mundo, é óbvio que para continuarmos reencarnados temos que atender as necessidades do corpo que nos serve de instrumento para a nossa manifestação. Entre as necessidades físicas que obrigatoriamente temos que suprir, o sexo seria uma delas?

Estudando a evolução do sexo a partir da infância compreendida do berço até os cinco anos ou um pouco mais, – isso considerando a precocidade das crianças deste tempo –, vamos observar que nesse período não se percebe qualquer comportamento que revelem impulsos sexuais, o que indica que a sexualidade no ser humano não é instintiva como nos animais que desde cedo ensaiam o ato sexual.
      Isso posto, somos levados a entender que reencarnamos esquecidos do sexo e que seus impulsos não são orgânicos e só passam a ocorrer quando a libido for acionada através da epífise (glândula pineal).

      No livro, Missionários da Luz, psicografado por Chico Xavier, o espírito Alexandre faz importantes revelações a André Luiz sobre a epífise:
     “– Não se trata de órgão morto, segundo velhas suposições – prosseguiu ele. – É a glândula da vida mental. Ela acorda no organismo do homem, na puberdade, as forças criadoras e, em seguida, continua a funcionar, como o mais avançado laboratório de elementos psíquicos da criatura terrestre. A glândula pineal reajusta-se ao concerto orgânico e reabre seus mundos maravilhosos de sensações e impressões na esfera emocional. Entrega-se a criatura à recapitulação da sexualidade, examina o inventário de suas paixões vividas noutra época, que reaparecem sob fortes impulsos”.
     “– Ela preside aos fenômenos nervosos da emotividade, como órgão de elevada expressão no corpo etéreo. Desata, de certo modo, os laços divinos da Natureza, os quais ligam as existências umas às outras, na seqüência de lutas, pelo aprimoramento da alma, e deixa entrever a grandeza das faculdades criadoras de que a criatura se acha investida”.

     Considerando a colocação de Alexandre quando define a epífise como a glândula mental e que através dela é que ligamos nossas existências umas às outras, podemos concluir que ela seria como um chip situado no corpo etéreo onde estão arquivadas todas as experiências vividas em encarnações passadas, e que, quando acionada na puberdade, faz com que ressurja no subconsciente os impulsos sexuais inerentes ao psiquismo desenvolvido durante nossas experiências ulteriores, os quais não estão submetidos às imposições físicas, por isso pode ocorrer que uma criança do sexo masculino venha a despertar a libido com tendências femininas e vice-versa.
     
Não é o propósito destas considerações se aprofundar no conhecimento da epífise, mas cabe aqui uma outra observação de uma das suas prováveis funções, também importante para o nosso conhecimento. Ainda no livro citado, segundo observou André Luiz durante uma manifestação mediúnica, a epífise do médium foi tomada de uma luminosidade intensa, ou seja, de alguma forma durante o transe mediúnico ela foi acionada. Considerando-a como um repositório de arquivos transcendentes, provavelmente o espírito no momento em que se comunicava, resgatou conhecimentos ali arquivados adquiridos pelo médium através das vidas sucessivas, o que é sabido, facilita ao espírito comunicante elaborar a mensagem que quer passar aos encarnados.
     No meu entender, essa seria então a função da epífise na mediunidade, sem qualquer prurido de sabedoria eu afirmaria que podemos considerá-la como a glândula do animismo.
     Voltando ao assunto central deste artigo, concluímos que, diferente das necessidades físicas, o sexo é uma necessidade psíquica.
     É inegável que o sexo acabou assumindo um papel preponderante nos conceitos de felicidade da maioria dos homens e mulheres que passaram a considerá-lo como fonte de prazer.
    Entretanto, a sede incontrolável de sexo da qual muitos são acometidos, tem sido uma das maiores causas da desagregação familiar, então eu pergunto: o sexo seria tão importante para uma união feliz entre um homem e uma mulher?
   Embora uma maioria acredita que sim, temos que considerar que estamos em um mundo de expiação e prova no qual renascemos imantados a um determinado espírito com quem vamos realizar a união conjugal para atender às nossas necessidades de expiação e provas, o qual nem sempre carrega consigo as mesmas afinidades que as nossas, conseqüentemente, são raros os casais que alcançam a plenitude em suas relações sexuais e afetivas.
    Atendendo a esse processo reeducativo, geralmente o homem frio se une a uma mulher sensual, quando não, ocorre o contrário. Diante dessa situação, um deles terá que reeducar seus impulsos sexuais e, se houver amor realmente, a renúncia deverá comparecer para compor a felicidade a dois, com menos sexo. Temos que reconhecer por traz desse contraste um maravilhoso processo criado pelas leis divinas para ajudar o espírito reencarnado a corrigir os excessos praticados em outras vidas, possibilitando-lhe alcançar o reequilibrio psíquico e emocional.
    Por outro lado, se a sensualidade excessiva não se contém, uma união que poderia resultar em uma união feliz com proveito evolutivo dos espíritos envolvidos, acaba desabando em separações ou em traições que comprometerão o futuro do espírito, acarretando sofrimentos futuros que poderiam ser evitados.
     Já ultrapassamos os horizontes da animalidade, a união de um homem e uma mulher não é uma união apenas de macho e fêmea semelhante a que ocorre no reino animal, mas sim a união de dois espíritos em evolução buscando o aprimoramento moral e o equilíbrio das forças psíquicas necessárias para o desenvolvimento do verdadeiro amor.
     A busca desenfreada das fantasias eróticas como estímulo que hora se vulgariza em nosso mundo, jamais trará a felicidade conjugal, muito pelo contrário, acabará corrompendo valores íntimos que deveriam se transformar em virtudes através da renúncia, objetivando uma consistente educação e aprimoramento dos sentimentos.
     Para que haja uma perfeita harmonia sexual na vida de um casal, a relação sexual não deve ser imposta ao cônjuge na hora que bem entendemos, ela deve nascer de um envolvimento natural de ambos, para que o prazer não seja unilateral.
    Na verdade, a felicidade e o amor verdadeiro entre dois espíritos, é aquele que perdura até a idade avançada quando o sexo já não tem nenhuma importância e cede lugar ao afeto carinhoso que nasce da preocupação de fazer o outro feliz.

Nelson Moraes