A COMUNICAÇÃO ESPÍRITA

  • 02/03
  • Crônicas
  • Nelson Moraes

            O espiritismo avançou em termos de divulgação, mas estamos carentes de comunicação, os livros, os periódicos e a imprensa espírita em geral, com raríssimas exceções, tornaram-se repetitivos, abordam temas velhos com terminologia moderna.
            O mesmo se dá com a oratória revestida de técnica, pode até ser brilhante em termos de cultura, mas quase sempre se revela balda de comunicação, o objetivo que deveria ser alcançado, se apaga ante o suposto brilho das palavras sofisticadas.
            O importante na comunicação verbal ou escrita, não está restrita apenas nas palavras, mas principalmente no envolvimento do escritor ou orador com o público que deseja alcançar.
            O Espiritismo não é um conhecimento que se compara aos das academias, é a mais profunda revelação da nossa natureza integral e das leis universais a que estamos submetidos. Se refere a um estado de consciência que todos terão que alcançar um dia. São revelações que envolvem o ser humano com responsabilidades que não estão restritas apenas nas questões culturais, mas principalmente nas questões dos sentimentos, que é o ponto alto das suas conquistas espirituais. Portanto, é um tema que não podemos tratar com frieza acadêmica, pois abrange as questões da fé em Deus cultivada na razão, a qual deve resultar na transformação moral da humanidade.
            Quando Hemendra Nath Barnejee, Diretor do Instituto de Parapsicologia da Índia esteve visitando o Brasil, num encontro com Chico Xavier, afirmou: "Chico, não se preocupe, o tema reencarnação já está se inserindo na cultura humana". Diante dessa afirmação, Chico manifestou sua legítima preocupação: "De nada adiantará se o tema reencarnação se inserir na cultura se não envolver as questões morais".
            Devemos entender que, para nós espíritas, o Espiritismo tornou-se um axioma, mas para o povo, ainda é algo inusitado, por isso mesmo, apenas divulgação, sem os autênticos elementos de comunicação, estaremos abastecendo apenas o intelecto sem conseguirmos ajudar na iluminação das consciências.
            A grande sabedoria da comunicação está muito mais no sentir, do que na terminologia, por mais atualizada que seja.
            O que está causando as guerras, a miséria, a fome e a violência? Como agir diante desses fatos?
            Como estimular a autêntica religiosidade a fim de superar o fanatismo religioso?
            Como ajudar o ser humano a equilibrar a relação entre o cérebro e o coração?
            Estes são os principais temas deste século, sobre os quais, pesa a responsabilidade dos espíritas construir elementos de comunicação para ajudar na transformação da humanidade.
            O comunicador espírita deve ser um semeador de luz clareando os horizontes da consciência humana. Nossa abordagem sobre esses temas cruciais, deve ser dirigida ao coração que é a chave que abre o reduto da inteligência onde se consolida a consciência. Toda verdade ou esclarecimento, se não calar fundo no coração, não altera o nível de consciência do ouvinte ou do leitor. Na maioria das pessoas, inicialmente a verdade bem colocada é mais sentida do que compreendida, e acaba estimulando a busca do conhecimento.
            Esse é o ponto crucial da comunicação! Transmitir para despertar!
            Para divulgar basta falar, porém, para transmitir e despertar, é preciso vivenciar, para vivenciar é preciso renunciar ao ego e interagir com aqueles que nos ouvem, colocando-nos como se fôssemos cada um deles.
            O comunicador espírita não deve jamais assumir a postura de um professor falando “para”, mas sim “com”, à semelhança de um amigo, cujo conhecimento adquirido o ajudou a superar grandes conflitos e dificuldades e que, agora, deseja que os outros também se beneficiem desse conhecimento. Dotado dessa postura, conseguirá acionar nos corações humanos um forte desejo de absorver tais conhecimentos.
            O comunicador que se propõe a trabalhar em favor do despertar de uma nova consciência, tem na codificação espírita, subsídios para abordar judiciosamente qualquer um dos temas aqui descritos, entretanto, quase sempre, perde valioso tempo abordando questões doutrinárias diante de um público carente de orientação no trato e na compreensão da causa dos problemas que lhe roubam a paz, a segurança e a fé.
            Temos um modelo de comunicador até hoje inigualável e que deve ser a fonte de inspiração de todos os que se propõem trabalhar a mensagem espírita. Surgiu no meio do povo contando pequenas histórias amparadas no próprio comportamento, com as quais gravou no subconsciente coletivo uma mensagem inapagável, acabando por construir em torno do nosso planeta, uma egrégora que permanece há mais de dois mil anos e hoje abrange o pensamento de quase a totalidade dos seus habitantes. Da mesma forma, nós, os espíritas, precisamos construir a egrégora do pensamento espírita e acoplá-la à Egrégora Cristã, suscitando a grande egrégora Espírita Cristã, que deverá renovar o mundo, fundindo a Ciência, a Filosofia e a Religião numa perfeita harmonia.
                                                                                             
     Nelson Moraes