OS COMPADRES E A VOLTA DE JESUS

  • 21/03
  • Crônicas
  • Nelson Moraes

OS COMPADRES - Personagens criados por Nelson Moraes e publicado na REVISTA ALÉM DA VIDA - com o título - CRITICA E AUTO CRITICA.

– Olá! Compadre, estou feliz por você.
– Ué, porque essa felicidade?
– Hoje eu passei pela sua roça e vi que ela está viçosa, é sinal que vai colher bem este ano.
– É, compadre, o pessoal em casa está animado, quem sabe desta vez vai dar para pagar o banco.
– Você merece! Quem trabalha é digno do seu salário.
– Isso quem falou foi o "Homem", não foi compadre?
– Foi sim! O maior de todos os sábios que a Terra já conheceu.
– Compadre, você não acha que Ele deveria voltar? Quem sabe com a presença Dele, as coisas mudavam e os homens se tornavam melhores?
– Compadre, alguém só pode voltar quando houvera partido. Jesus não partiu e nem se ausentou, continua por aí, nós é que temos que encontrá-lo. Muitos já o encontraram e compartilham da Sua presença.
– Compadre! Eu senti um arrepio nas costelas enquanto você falava, será que é Ele confirmando o que você disse?
– Com certeza! Ele está por toda parte, principalmente onde houver a manifestação do amor, da compreensão e da caridade. Ele é como uma usina de força irradiando energia, quando o sintonizamos com a antena do coração, recebemos esse manancial de amor incentivando-nos a caminhada de ascensão, rumo à verdadeira felicidade.
– Compadre, vejo que você está cada vez mais espiritualizado. Será que um dia vou desenvolver essa fé que agora alimenta os seus ideais, e fez de você um sábio?
– Compadre, o Espiritismo é fonte inesgotável de informações sobre a nossa mais profunda natureza, cujo conhecimento nos impõem responsabilidades que não se restringem apenas às questões da fé. São revelações fundamentadas nas leis universais, onde os nossos sentimentos despontam como ponto crucial na manutenção e consolidação do equilíbrio das forças de que estamos revestidos, as quais são inerentes a nossa natureza espiritual.
– Que forças são essas a que você se refere?
– Compadre, só de pensar o ser humano já fez alguma coisa. O pensamento não brota do cérebro, é a manifestação da mente, e a mente é uma das forças que constitui o nosso eu espiritual. Entretanto, essa força assume várias características segundo os sentimentos que a orientam. A mente engedra, os sentimentos qualificam e a ação materializa segundo os instrumentos de que dispomos, no caso do espírito encarnado, esse instrumento é o corpo.
– Quer dizer que não é o cérebro que pensa?
– O cérebro é apenas o instrumento de manifestação do pensamento do espírito encarnado. Por si só, é uma máquina que, com a ausência do espírito, deixa de funcionar.
– Por que alguns são mais inteligentes que outros?
– A manifestação da inteligência do espírito encarnado depende da configuração física do cérebro. Se um espírito reencarna em um corpo cujo cérebro é deficiente, a manifestação da sua inteligência será prejudicada, porém não significa que não seja inteligente. Muitos optam por essa condição à título de desenvolverem outras aptidões e sentimentos que lhe faltam para que alcancem a felicidade que almejam. A inteligência do espírito está condicionada à um maior ou menor número de experiências vivenciadas nas vidas sucessivas através dos mundos.
– Quer dizer que por traz de uma pessoa aparentemente simplória, pode estar um espírito surpreendentemente inteligente?
– Sem dúvida. Por isso não podemos julgar ninguém sem correr o risco de nos enganar. José de Copertino, considerado santo pela igreja católica, foi um simplório ajudante nos currais onde se guardavam os animais da igreja. Se ordenou frade menor pela intercessão de uma autoridade eclesiástica, no entanto, ocultava uma alma iluminada que, ao orar, elevava-se à altura da cúpula da igreja, flutuando no ar a semelhança dos anjos.
– Pelo que entendi... ao mesmo tempo em que a inteligência amplia as possibilidades humanas, os sentimentos ampliam os dons do espírito, elevando-o aos páramos da sabedoria divina. Não é isso, compadre?
– Exatamente! Chegamos em um ponto da evolução humana onde todos terão que se curvar diante dessa realidade. Foi a falta dessa consciência que acabou gerando essa cultura equivocada que predomina no mundo, suscitando as guerras e promovendo o desequilíbrio social.
– O que falta para que a humanidade se transforme e consolide um mundo melhor para todos?
– O essencial! Infelizmente os seres humanos não cultivam o essencial.
– E o que devemos entender como essencial?
– Vou tentar explicar. Por exemplo: você vive em um lugar onde o único meio de transporte é a bicicleta, de nada adianta você saber em que ano surgiu a primeira bicicleta, em que país e quem foi o inventor, o essencial é você aprender a pedalar e
dirigi-la com perícia. Vou contar um caso que ilustra muito bem o que quero dizer: havia um Zoólogo que se dedicava a hidrologia e vivia em uma região banhada por diversos lagos, passou longos anos estudando os mananciais hídricos. Certo dia, como sempre fazia, pediu a um barqueiro que o conduzisse à outra margem de um lago.

Muito culto, enquanto fazia a travessia começou a dialogar com o barqueiro, fez-lhe uma pergunta:
– O senhor estudou?
– Não senhor. Desde cedo tive que trabalhar.
– Fique sabendo que o senhor perdeu grande parte da sua vida, com os meus estudos eu sei mais sobre este lago do que o senhor que nasceu aqui.
O canoeiro coçou a barbicha, olhou o chão da canoa se enchendo de água, e perguntou-lhe:

– O senhor aprendeu a nadar?
– Não. – afirmou o doutor apreensivo.
– Pois é doutor, o senhor não aprendeu o essencial para sobreviver nesta região e agora vai perder toda a sua vida, o barco está afundando.
– É compadre, o homem sabia tudo sobre água, mas jamais se preocupou em aprender a nadar.
– Você entendeu? Tem muita gente que sabe tudo sobre tudo, mas ainda não aprenderam o essencial para a verdadeira felicidade. A vaidade excessiva do saber, impede a visão do essencial que está nas coisas mais simples da vida.

Nelson Moraes

* José nasceu em Copertino (Lecce), Itália, em 1603. Foi recebido na Ordem dos Frades Menores Conventuais. Ordenado Sacerdote em 1628. Distinguiu-se por uma grande austeridade de vida e intenso espírito de oração. Sua vida foi assinalada por extraordinárias manifestações anímicas e mediúnicas que fizeram dele uma das figuras mais interessantes da mística cristã. Pela exuberância desses fenômenos, teve que trocar muitas vezes de convento, a fim de evitar fanatismos populares, mas sempre brilharam nele a humildade e uma incondicionada obediência. Grandíssima foi sua devoção para com a mãe de Jesus. Morreu em Ósimo, a 18 de Setembro de 1663. Foi canonizado por Clemente XIII.