DA INDIGÊNCIA PARA A LUZ

  • 15/04
  • Crônicas
  • Nelson Moraes

Estava sentado no banco da praça onde sempre dormia nas noites infindáveis da minha desventura, uma chuva intensa descia dos céus, os pingos atingiam meu rosto como flechas de tortura. Estava febril e arfando com dores no peito, já não conseguia enxergar direito.
Demorou para que eu percebesse que alguém havia sentado ao meu lado, meu coração acelerou ao ver aquela figura sob um véu de luz que a protegia. Embora envolto em intensa luz; seu rosto eu quase não via.

Senti forte emoção quando ela se levantou e o céu se abriu e a chuva parou, e como por encanto meu corpo secou.
Envolvido pela sua luz levantei me sentindo fortalecido. A emoção me fez recordar do passado de uma vida inteira como indigente. Lembrei das poucas vezes que alguém me abraçou e me fez sentir gente, assim eu segui a vida, sempre com o coração em frangalho, houve momentos em que a coisa que eu mais queria neste mundo; era apenas um agasalho.

Voltei do transe de minhas lembranças, e a luz já não estava ao meu lado, mas eu continuava iluminado. Surpreso e assutado contemplei meu corpo inerte que ali continuava sentado. Antes de qualquer reação que eu pudesse ter diante desse quadro inusitado, uma voz se fez ouvir em meu coração abalado.

"As longas noites mal dormidas que passastes nos bancos das praças e nas calçadas, apagaram de tua consciência, cenas terríveis dos erros praticados em vidas passadas.
A tua resignação durante todo o percurso de tua existência e a ausência de magoas no teu coração, te fez merecer um mundo melhor, Vamos! Vou levá-lo para junto da tua família espiritual que te aguarda em um mundo de paz e de regeneração".

Nelson Moraes