GRAVIDEZ OCULTA

  • 08/06
  • Crônicas
  • Nelson Moraes

                         Rosamaria, estava casada há quinze anos e não conseguia engravidar.

                Quase todas as noites sonhava com uma menina em seus braços. Aparentemente a criança deveria ter uns três anos de vida.

                Toda vez que esse sonho se repetia, ao acordar pela manhã, tentava lembrar de seu rosto e não conseguia, ficava muito triste com isso.

                Suas amigas tinham interpretações diferentes para o seu sonho. Algumas delas achavam que era porque jamais teria um filho, por isso não conseguia ver o seu rosto. Outras achavam que era um aviso para ela adotar uma criança.

                Rosamaria, entre tantas opiniões, chegou a pensar muitas vezes na adoção, mas tinha muito medo de não achar a criança certa e depois não conseguir criá-la com o devido carinho. Era uma decisão muito difícil.

                Passaram-se três anos do início daqueles sonhos, os quais continuaram se repetindo. Depois de muitas dúvidas que a consomiam, resolveu pela adoção.

                Assim o fez.

                Visitou vários orfanatos, encontrou muitas meninas e meninos que poderiam ser adotados por ela, mas não sentiu por nenhum a atração que esperava. Mesmo assim continuou sua busca, até que um dia, visitando um orfanato fora da cidade onde morava, perguntou na portaria se havia alguma menina ali que ela pudesse adotar. A irmã de caridade que dirigia aquela instituição, vendo o seu interesse de adoção, chamou-a em uma sala ao lado e disse-lhe:

                — Minha irmã... Fico feliz ao ver pessoas como você que tiveram a coragem de vencer os preconceitos e optar pela adoção. Com certeza será muito feliz quando encontrar a criança que procura. Espero que seja uma das nossas. Nós temos aqui algumas meninas como a senhora procura, mas devo avisá-la que uma delas, embora muitas pessoas quizessem adotá-la, se recusa aceitar. Afirma que está esperando sua mãe vir buscá-la. Diz que a conhece, mas ela está aqui desde o dia que nasceu pois sua mãe morreu no parto, o que torna impossível que ela realmente a conheça. Talvez ela use esse argumento por que não quer ser adotada, isso para nós tem sido um sério problema. É uma menina muito inteligente. Estou avisando a senhora apenas para que não se decepcione se porventura optar por ela.

                — Muito obrigado. Deve ter sido difícil para essas pessoas que quizeram adotá-la. Eu posso vê-las agora?

                — Sim. Vamos.

                Rosamaria, entrou na ala das meninas...

                Quase todas tinham entre dois e três anos, algumas brincavam na sala ampla e outras estavam nos berços. Olhou uma por uma das que se divertiam, até brincou com elas. Mas ao se aproximar do berço de uma delas, seu coração disparou, a menina olhou firme para ela e perguntou:

                — Porque demorou tanto para vir me buscar?

                Muito emocionada, Rosamaria tomou-a em seus braços e, abraçadas, começaram a chorar. A irmã de caridade preocupada ao assistir a cena, aproximou-se das duas e tentando avisar Rosamaria perguntou à menina:

                — Você não está esperando sua mãe vir lhe buscar?

                — Esta é minha mãe! Você não está vendo?

                A irmã de caridade, tomada de forte emoção, teve que sentar-se e deixar as lágrimas rolarem abundantes em seu rosto.

                Realmente, Rosamaria viveu uma gravidez espiritual ao se imantar a essa criança desde o seu nascimento.